O Compendio da Rhetórica Portugueza (título original) foi publicado em 1782, na cidade do Porto, em Portugal, por Antônio Teixeira de Magalhães.
A obra é composta de quatro partes ou livros. A versão apresentada aqui é o Livro Primeiro e teve a ortografia revisada e atualizada.
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COMPÊNDIO DA RETÓRICA PORTUGUESA
ANTÓNIO TEIXEIRA
DE MAGALHÃES
Professor
Régio de língua grega na Cidade de Braga Primaz
1782
Da utilidade e dignidade da Eloquência
Todo
o mundo reconhece a utilidade e dignidade da Eloquência; aquele que a possue excede
tanto ao resto dos seus semelhantes quanto o homem é acima dos brutos. Com o seu
auxílio se vence tudo. Ela atrai e leva sempre após de si os ânimos dos homens
as mais rebeldes, e os mais obstinados; os homens bárbaros e agrestes, vencidos
pelas armas da bem ordenada razão, se meterão debaixo do seu jugo e virão a
fazer entre si e as outras nações civilizadas uma liga admirável. À muitas pessoas,
e mesmo a uma república inteira, tem ela restituído a conservação e a vida. Ela
nos conduz para a integridade dos costumes de que tanto depende a boa ordem e
perfeição da vida civil. Em uma palavra, é tão grande a força da Eloquência que
não produz senão efeitos espantosos e felizes para os homens.
Cícero,
advogando a causa de Ligário, se empenhava em obter de César a graça deste
homem, mas César não o querendo ouvir, se resolveu, contudo, apesar de várias súplicas,
e levando na mão a sentença da proscrição, disse: Ouçamos a Cícero, o meu partido está tomado; ele não será nem mais nem
menos. Cícero falou e triunfou desta resolução: ele não negou o crime nem
justificou ao culpado; porém soube aproveitar-se tão bem da propensão que César
tinha à Clemência que o Ditador, enternecido, lhe fez cair o papel da mão e
exclamou: Tu o levas Cícero; César não te
pôde resistir.
O
ferro e o fogo em uma Armada não fazem tantas conquistas quantas a Eloquência
em uma Assembleia de homens prudentes. Péricles em Atenas não era menos
obedecido e respeitado por meio da sua eloquência, quanto o era Pisístrato
pelas suas armas. Não lemos nós nas histórias que César e Alexandre, estes
grandes heróis, animavam para a peleja aos seus soldados com os seus discursos,
e que por este meio é que conseguiam tantas vitórias? Muitos são os exemplos
que pudera alegar, afim de livros sagrados como profanos, para com eles fazer ver
o grande domínio que a Eloquência tem sobre o coração dos homens, mas eu me abstenho
de os referir, porque imagino que todos estarão capacitados desta grande verdade.
LIVRO PRIMEIRO
CAPITULO I: Definição da Retórica
Retórica,
geralmente, se define: Faculdade ou Arte
que nos ensina a persuadir com força de argumentos e palavras próprias. Ela
tem por objeto mostrar-nos os caminhos que nos conduzam à Eloquência. Estes são
tão inumeráveis como os corredores de um labirinto; é fácil de os confundir, mas
a retórica nos ensina a distingui-los.
A
palavra Eloquência, tomada em uma significação geral se aplica a tudo; não há
matéria que dela não seja susceptível. Em obras sérias tem por ofício ensinar,
mover e deleitar; e para poder produzir todos estes grandes efeitos se deve
começar pelo deleite, o qual é um poderoso artifício para fazer mover toda a máquina
do espírito e do coração humano; e se consegue pelas insinuantes graças de um
Exórdio modesto, pela elegância cheia de pensamentos e de um estilo vivo, por uma
variedade sábia e mais que tudo por uma particular atenção À modéstia e por uma
escrupolosa observação ao que convém aos tempos, aos lugares, e às pessoas.
O
bom orador não deve jamais apartar-se da verdade. Se alguns abusam de seus
talentos para revestir a mentira das cores da verdade, é esta uma desordem que se
não deve imputar à Eloquência.
CAPITULO II: Das partes da Retórica
Os
retóricos, assim antigos como modernos, têm dividido e subdividido a Retórica
em tantas partes quantas lhes têm parecido. Nós, usando do mesmo direito, para
maior comodidade, a dividiremos em quatro partes.
Primeiramente
devemos procurar argumentos e razões próprias para convencer: eis aqui a Invenção.
Segundo.
Mas estas razões, amontoadas umas sobre as outras, acumuladas sem discernimento,
e lançadas ao acaso, sem escolha e sem gosto, mais oprimno espírito do que o instruem;
por isso, é preciso reduzi-las a uma certa
ordem metódica, e dispô-las nas partes de um discurso justo e regular: e a isto
se chama Disposição.
Terceiro.
Convém exprimir estas razões com ornato e com espírito; dar-lhes um ar, que
toque e que surpreenda; usar de figuras que nasçam do fundo da matéria, mover as
paixões e tocar os corações; este é o efeito da Eloquência ou Elocução.
Quarto.
Enfim, para que um belo discurso produza todos estes efeitos, deve-se pronunciá-lo
com graça e com força; e a isto chamam Eloquência
do gesto e da voz.
Quanto
à Memória, da qual alguns fazem uma
quinta parte, ela é tão necessária em matérias científicas assim como é o Juízo; e, por isso, me não parece
próprio confiderá-la separadamente.
Estas
quatro partes se empregam em toda a forte de discursos, ou orações, das quais a
retórica tem três gêneros principais. O Demonstrativo, o Deliberativo e o
Judicial.
CAPITULO III
Do gênero demonstrativo
O
gênero Demonstrativo é aquele no qual
se trata de elogiar ou repreender alguma coisa ou pessoa. Na sátira, para encher
de horror e de indignação pública aquilo que se quer fazer odioso, usaremos de
cores fortes, e horríveis. Um estilo vivo, conciso, urgente e rápido é o que convém
ao ódio? Nos cumprimentos, panegíricos, orações fúnebres, etc deve mostrar a
Eloquência tudo o que ela tem de mais brilhante no colorido, de mais vivo em os
sentimentos, de mais novo nos pensamentos, e de mais harmonioso nas expressões.
Importa muito satisfazer um ouvinte delicado e desdenhoso, o qual só vem ouvir um
belo discurso.
Do gênero deliberativo
No
gênero Deliberativo se trata de tomar um partido sobre um importante negócio. Cada
um diz o seu sentimento e expõe os motivos sobre os quais se estriba. Uma
Eloquência vigorosa e robusta é a que convém a este gênero no qual nada respira
de ninharias, jogos de palavras, nem antíteses.
Demóstenes,
quando obrigava aos atenienses a defender sua liberdade contra Felipe, rei da Macedônia,
sua eloquência era um raio e uma torrente, que arrastava todos os espíritos e
os inflamava de um ardor guerreiro; e Felipe dizia assim: Eu não temo os atenienses, temo sim somente a Demóstenes.
Do gênero judicial
Os
litígios e as disputas são o que compõe este gênero, e é particularmente nestes
discursos, onde há um Juiz para considerar, que é preciso pôr em obra todas as
partes da oração, das quais se há de tratar na Disposição.
CAPITULO IV: Dos lugares oratórios interiores
Tornando
à Invenção, que é a arte de achar as razões convincentes. Para nos conformarmos
com o uso e para dizer alguma coisa sobre esta parte da Retórica, fomos
obrigados a tocar um pouco os principais lugares oratórios.
Os
lugares oratórios são espécies de arsenais que fornecem à Eloquência as armas
das quais ela tem necessidade. Estes são umas fontes públicas, nas quais se podem
exaurir, para cada matéria, os argumentos que lhe convém. Este método tem sua
comodidade. Os grandes oradores desprezam servir-se dele; os medíocres não
desgostam de achar este remédio.
Os
lugares oratórios são ou interiores, que nascem do mesmo fundo dá matéria, ou
exteriores, os quais sem serem absolutamente estranhos à matéria, não têm mais que
uma relação indireta e pouco sinalada. Os principais lugares interiores são a
Definição, a Enumeração das partes, a Semelhança, a Diferença e as Circunstâncias.
SEÇÃO I: Da Definição
A
Definição é um discurso próprio a fazer conceber a coisa como ela é em si e dar
dela uma ideia clara, exata e distinta.
Definição
de uma armada na criação fúnebre de Mr. de Turenna, por Mr. Flechier.
Que outra coisa é
uma Armada mais do que um corpo animado de uma infinidade de paixões diferentes,
que um homem hábil faz mover para a defesa da pátria? Uma tropa de homens
armados que obedecem a um chefe, cujas intenções eles ignoram; uma multidão de
pessoas pela maior parte vis e mercenárias, que, sem interesse algum da sua
própria reputação, trabalham meramente pela dos Reis ou Conquistadores; uma
confusa assembleia de libertinos que é preciso fazê-los sujeitar à sua obediência;
de cobardes que é preciso levar à peleja; de temerários que é necessário reprimi-los;
de impacientes que é preciso acostumá-los à constância.
SEÇÃO
II: Da Enumeração das partes
A
Enumeração consiste em relatar diversas circunstâncias que convém a uma coisa.
Exemplo. M. de Fenelão faz uma bela Enumeração de todos os monstros que rodeiam
o Trono de Plutão nos infernos.
Aos pés do trono
jazia com uma foice, que incessantemente amolava, a pálida e devoradora Morte, à
roda da qual voavam os negros e trsftes cuidados, as cruéis desconfianças, as
vinganças todas alqueirosas de sangue, e cobertas de feridas, os ódios injustos,
a avareza que a si mesma se roi, a desesperação que com suas próprias mãos se
despedaça, a desatinada ambição que estraga tudo, a traição que se quer
alimentar de sangue e se não pode lograr dos males que comete, a inveja que à
roda se si derrama o seu mortal veneno, e que não podendo empecer se torna em
raiva; estava a impiedade cavando ela mesmo um profundo abismo no qual perdida
a esperança se arremessa; os medonhos Espectros, as Fantasmas que para atemorizar
os vivos se assemelham aos mortos, os sonhos horríveis, as vigílias tão crueis,
como os mesmos sonhos, todas estas fúnebres imagens cercavam ao feroz Plutão e
enchiam ao palácio onde habita.
A
Enumeração é de um grande uso na exposição da matéria e na recapitulação.[1]
SEÇÃO III: Da semelhança
A
Semelhança é a correlação que se dá entre dois objetos quando eles se comparam juntamente.
Exemplo
em Telemaco. É ele mesmo o que fala.
Apenas acabava
eu assim de falar, logo adoçava a minha dor, e meu coração embebido em uma louca
paixão lançava fora de si todo o pejo, depois eu me via submergido em um abismo
de remorsos; no meio desta perturbação corria sem tino pelo sagrado bosque, bem
como a Cerva que, ferida do caçador, corre por entre a espessura para mitigar a
dor, mas aí seta que lhe traspassa o lado, a segue sempre, e consigo leva o
ferro matador; assim eu corria em vão para me esquecer de mim mesmo, e nada suavizava
a ferida do meu coração.
SEÇÃO IV: Da Diferença
A
Diferença, ou Dessemelhança, não é outra coisa mais do que uma certa
contrariedade que se acha entre dois objetos comparado; quer se comparem
juntamente dois objetos atualmente difetentes, quer se compare o estado
presente de um só objeto com seu estado passado. Exemplo.
O
Profeta Jeremias pinta de uma maneira igualmente forte e lastimosa a horrível
ruína de Jerusalém, em outro tempo tão florescente.
De que modo está
agora tão solitária Jerusalém, em outro tempo tão populosa? Esta Cidade tão grande entre as nações,
está agora como viúva, e sujeita ao tributo, sendo a Rainha das Províncias! Ela
não cessa de chorar toda a noite e derramar lagrimas em abundância. De todos
que a amavam, não há um só que a console! todos os seus amigos a tratarão com
perfídia, e se fizeram seus inimigos.
De que modo o
Senhor em seu furor cobriu de trevas a filha de Sião? De que modo fez ele cair
do Céu na terra a filha de lsrael, que era tão brilhante, e não se lembrou no
dia da sua cólera daquela onde tinha posto seus passos?
Os caminhos que
conduz a Sião estão em choros, porque não há mais ninguém que venha às suas solenidades;
todas as suas portas estão arruinadas; os seus Sacerdotes não cessam de gemer; suas
Virgens estão cheias de dor, e ela está submergida em amargura.
Seus inimigos a
dominam e os que a aborreciam vivem em prosperidade, porque o Senhor a afligiu por
causa das suas iniquidades; seus meninos foram levados cativos diante do
inimigo que os perseguia.
Tudo quanto a
filha de Sião tinha de belo, tudo se lhe roubou; seus Príncipes se fizeram como
carneiros que não acham pasto, e caminharam destituídos de forças perante do
inimigo que os perseguia.
Jerusalém, nestes
dias da sua aflição, se lembrou das suas prevaricações e de tudo quanto nos séculos
passados ela teve de mais desejado, lembrou-se quando seu povo caiu nas mãos
dos inimigos sem ter alguém que o socorresse, seus inimigos o viram e fizeram zombaria
dos seus dias de repouso.
Jerusalém cometeu
um grande pecado, e esta é a razão porque anda sem tino; todos os que a honravam,
a desprezaram, porque viram a sua ignomínia, e ela, em gemidos, virou sua face
para traz.
Todo o seu povo
está em gemidos e procura o pão, e para manter a sua vida deram tudo quanto
tinham de mais precioso. Vede, Senhor, considerai o abatimento a que estou
reduzida...
Minhas entranhas
se me abalaram, meu coração está em si mesmo arruinado, porque eu sofro a pena
da minha rebelião; a espada mata a meus filhos da parte de fora, e da parte de
dentro não vejo mais que uma imagem da morte...
Considerai, Senhor,
qual é o povo que vós trataste desta sorte. É possível que as mães sejam
obrigadas a comer o fruto de suas entranhas, a comer os filhinhos que elas
enfaixavam? É possível que os Sacerdotes e os Profetas sejam mortos no mesmo
Santuário do Senhor? Meninos e velhos estão estendidos mortos ao longo das ruas;
minhas Virgens e os meus mancebos caíram debaixo da espada; vós os matastes no
dia do vosso furor; vós os degolastes sem perdoar a um só.
Vós fizestes vir
gente como em um dia solene para me atemorizarem por todas as partes; não se
achou um só que pudesse escapar e que fosse excetuado no dia do furor do
Senhor.
SEÇÃO
V: Das Circunstâncias
As
Circunstâncias são de um muito grande uso na arte Oratória; elas expõno verdadeiro
estado das coisas; elas são as que distinguem e que caracterizam, que fazem desprezíveis
ou heroicas, virtuosas ou criminosas, as ações dos homens. Exemplo.
Medeia,
queimando o Palácio de Creusa, matando seus próprios filhos à vista de Jasão, seu
pai, é sem dúvida uma mulher desapiedada, uma mãe inumana e cruel; mas a raiva
que a devora, seu amor violento por um pérsido que ela fez possuidor do Velocino
de ouro e por quem ela abandonou seu pai e sua pátria, e sacrificou sua honra, imolado Pélias e Absirto seu próprio irmão; a vergonha
de se ver preferir uma rival, os movimentos de amor, de ódio, de medo, de jalusia e de raiva que a atormentam; todas estas Circunstâncias
modificam sua ação. Seus crimes passados parecem desculpar seus crimes presentes
(se, contudo, um crime pode desculpar outro).
Orestes
parece indesculpável em levantar o braço parricida contra sua mãe Clitemnestra;
mas ela mesma se tinha manchado do sangue de Agamenon. É a piedade que faz a
Orestes ímpio, ele vinga seu pai e sobre quem? sobre sua mãe. Ovídio duvida se este
fez um crime ou uma ação de piedade.
No
Salmo 55, parece que o Profeta Rei nos representa em Absalão a ingratidão dos pecadores.
És tu, ingrato,
que me combates, tu que eras um coração comigo, que conduzias as minhas tropas,
e que eras meu intimo amigo? tu que comias comigo em à minha mesa esplêndida e deliciosa
e ias comigo à casa de Deus sem outra vontade diferente da minha?
A geral mecânica destes lugares Oratórios
consiste em dar, por meio da definição, uma exata ideia do objeto do seu discurso;
em bem distinguir todas as suas partes por meio da Enumeração; em examinar e
fazer valer todas as conexões e contrariedades que se acharem entre a matéria
de que se trata, ou outra qualquer; enfim em insistir sobre as circunstâncias que
caracterizam esta matéria e a distinguem de outra.
CAPITULO V: Dos lugares oratórios exteriores
Chamam-se
lugares exteriores porque são como uns socorros que o orador toma fora da sua matéria;
tais são para os pregadores a Escritura santa, os Concílios, a História Eclesiástica,
os Padres da Igreja, etc. Para os advogados, as Leis, os Costumes, os Decretos,
as Ordenações, etc. Para o dissertador, as autoridades que podem animar a sua
opinião; e para todos os outros gêneros de Eloquência, os lugares oratórios exteriores
se reduzem somente à Imitação.
Da Imitação
A
Imitação é a arte de fazer furtos sutis aos bons autores. Diferencia-se do Plagiato,
porque orna, enfeita e assignala de seu selo particular tudo o que recebe; apropria-se
e faz sua conquista legítima. O Plagiato, porém, é um roubo vergonhoso.
Os
bons autores nos fornecem pensamentos e expressões; se pegamos dos pensamentos,
enriqueçamo-los, aperfeiçoemo-los, se é possível, e sobre tudo produzamo-los debaixo
de novas expressões e que nos seam próprias. Se tomamos as expressões, sirvamo-nos
delas para felizes alusões, aplicações engenhosas etc.
Há
também outra maneira de imitar mais geral que estas duas, na qual entra mais
arte. Esta é quando de tal sorte se toma
o gênio, o estilo e o caráter de um autor e se transforma, para assim dizer, de
tal sorte nele, que o imitador e o modelo parecem ser um mesmo escritor; ainda
que se não possa designar alguma penada particular que tenha recebido do outro.
Porém qualquer que seja a maneira de imitar, procuremos de transcender nossos
modelos, ou ao menos de os igualar e fazer que o que imitamos pareça original. Exemplo
Horácio diz:
O dinheiro, bem
como um rei poderoso, dispensa todos os favores; ele faz achar uma mulher provida
de um rico dote, dá credito no mundo, granjeia amigos, dá nascimento e formosura
a quem a não tem. Sê opulento e a doce eloquência correrá de teus beiços, as
graças terão cuidado de te ornar.
Boileau o imitou e ampliou, dizendo:
Quiconque est riche, est tout; sans sagesse, il est sage;
Il’a, sans rien favoir, la science en partage;
Il’a l’esprit, le coeur, le mérite le rang,
La vertu, la valeur, la dignité, le sang;
Il est aimé des Grands, il est cheri des Beles:
Jamais Surintendant ne trouva des cruelles;
L’or même à la laideur donne un teint de beauté:
Mais tout devient affreux avec la pauvreté.
Este
exemplo basta para fazer ver de que modo se pode imitar.
Quanto
aos autores que se devem irritar, eles são bem notórios pela sua reputação. Se
eu quisesse fazer um catálogo dos autores e livros que escreveram e avaliar o seu
merecimento, seria isto assunto para uma grande e dificultosa obra. As pessoas
que só querem formar o gosto, não devem ler tudo, devem sim limitar-se logo em
livros excelentes a fim de se porem em estado de poderem ler depois os outros sem
perigo.
Eis
aqui os lugares oratórios por amor dos quais alguns retóricos fazem tanta bulha
e em que fazem consistir toda a Eloquência, sendo que as suas verdadeiras
fontes são o espírito, o gosto, e conhecimento do coração humano. Advertindo, entretanto,
que há obras cuja Eloquência deve necessariamente ser exaurida em certas
fontes: um sermão no qual se não metesse em obra nem a Escritura nem a Tradição,
e no qual se substituíssem passagens puramente morais às verdades evangélicas,
não seria uma bom na sua espécie; da mesma forma que um arrazoado cujos
princípios e raciocínios não tivessem outra origem que uma imaginação sistemática,
rebelde à autoridade das Leis.
As
Dissertações são também um gênero de obra sujeita às autoridades; porquanto se
deve fazer uma escolha judiciosa das mais respeitáveis, não as acumular muito,
dispô-las a propósito, apresentá-las no dia mais favorável à opinião que se pretende
fazer valer.
A
respeito da Imitação, temos para observar uma regra geral, e é não empreender
jamais compor sem ter bem nutrida e bem penetrada a alma da leitura dos
melhores autores, e sem ter acendido fogo no archote
do seu gênio.
[1] A Recaptulação, como diz M. Gibert,
é aquela sumária repetição dos argumentos que têm sido alegados pela confirmação.
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